Em Vila Boa, uma aldeia do concelho de Vinhais na encosta da Serra de Nogueira, também há as máscaras, gaitas de foles e todas as coisas comuns às festas de origem pagã do Nordeste Transmontano. Aqui o passar do tempo fez com que a altura em que saíssem à rua fosse deslizando dos dias em torno do final do ano para umas semanas mais tarde. Aquilo que inicialmente era uma celebração do Solstício de Inverno foi-se tornando na festa de Entrudo que é hoje.
É por causa disto que há semelhanças com as outras festas de inverno que acontecem não muito longe dali, a começar pelos seus personagens centrais: os “caretos”, ou “máscaros” como aqui são chamados. São figuras demoníacas, encapuçadas, normalmente vestidos de vermelho, e usando máscaras de madeira ou lata; noutros tempos chegavam a esconder tudo o que iam vestir nos bosques em volta, para trocar de roupa num lugar escondido e regressar à aldeia já transformados, e assim poder pregar todas as partidas debaixo de um anonimato total. A estas juntam-se outras figuras mascaradas, umas mais tradicionais, como as “madamas” e os “marafonos”, outras nem tanto e é normal ver uma criança com o traje de super-herói do blockbuster desse ano. Juntamente com os músicos e muitos não- mascarados, um cortejo caótico vai andando de casa em casa, comendo, bebendo, cantando. Aos não-mascarados é esperado que lhes seja atirada farinha. Mas no meio toda esta folia há algo especial: o fogo.
Há um enorme simbolismo do fogo nos rituais pagãos: é um elemento purificador, que limpa os pecados e elimina as coisas más, em especial quando se trata de uma festa de excesso que antecede uma época de disciplina como a Quaresma. Por isso é normal estas festas de solstício de inverno e entrudo terem o fogo como elemento importante, é normal terminarem com uma fogueira onde todos se juntam em volta, é normal saltar-se por cima das chamas, é normal queimar-se uma “figura demoníaca” que é a dona de todos os males. Mas em Vila Boa o fogo é maior e mais presente, as fogueiras são mais centrais ao caos que é o dia de Entrudo, é acendida uma em pleno largo da aldeia, ainda cedo pela tarde, e todos os “máscaros” saltam sobre ela, por mais novos que sejam. E o dia termina com outras fogueira, mas esta enorme, que vai arder já com o crepúsculo, no local onde termina a festa e no ponto mais alto da aldeia, à vista de todos.
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