Há muitas tradições de inverno em Trás-Os-Montes que, como tantas outras na Europa, remontam à s celebrações pré-cristãs do Solstício de Inverno. Sem entrar em muitos detalhes, porque são demasiado complexos para eu explicar o suficientemente bem, estes são rituais que marcam o nascimento do ano novo, o tempo em que os dias começam a tornar-se mais longos e seu significado está muito relacionado com a fertilidade e o sucesso para as colheitas do ano que se avizinha.
Estas celebrações eram extremamente importantes, tanto que acabaram sendo assimiladas nas tradições cristãs, especialmente no Natal, e até hoje ainda há um lado pagão e não pagão nelas. Com o tempo, estas começaram a espalhar-se no calendário, que agora se estende por um período que vai do final de dezembro ao início de janeiro, e da mesma forma que suas datas começaram a mudar ligeiramente seus ritos também evoluíram, adaptando-se à envolvência e hábitos de cada região, e mesmo de cada aldeia.
No topo norte de Trás-Os-Montes tudo acontece durante e logo após o Natal, e o que se verá é algo que esta parte do país está já conhecida: hordas de pessoas mascaradas, geralmente deambulando pelas ruas pregando partidas. Mas no Planalto Mirandês, o canto superior direito do país, as coisas não funcionam da mesma forma, algo que não surpreende vindo de uma região com uma identidade muito forte, tanto que é onde a outra língua oficial deste pequeno país pode ser encontrada.
Lá em cima, nas aldeias de Tó, Bemposta ou Vila Chã de Bracioosa, essas tradições de Inverno passaram para o primeiro dia do ano, com menos pessoas e menos agitação, mas com a mesma paixão, começando logo no início da manhã, que tende a ser fria nos lameiros com muros de pedra desta parte do país. Cada uma delas é diferente da outra: enquanto numa há uma das máscaras mais elaboradas de Portugal, coberta com vários símbolos pagãos (como a serpente, as laranjas ou os chifres que as seguram), noutra a máscara foi substituída por um rosto preto (a lenda diz que um padre a roubou há muito tempo, então o rosto é pintado de preto desde então). Embora os trajes e os atores possam variar, também há muito em comum: um, ou mais, demónio como figura que vão andando pelas ruas, de porta em porta, pedindo uma oferenda, de modo que o novo ano traga boa sorte a todos, aquele simbolismo antigo da fertilidade que conecta todas essas celebrações diferentes.
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