Em janeiro de 2020 estava em Salsas, no concelho de Bragança, a fotografar uma das últimas festas do solstício de inverno de Trás-Os-Montes. Andava pela região desde a altura do Natal, tal como tinha feito nos anos anteriores, e estava prestes a regressar a Sul, regressar a casa. Quando me despedia do André e lhe dizia que nos veríamos outra vez no final do ano ele, naquele jeito caloroso e directo típico dos transmontanos, que estaria á minha espera e garantia-me que esse ano iria ser em grande, que iria ser mesmo brutal (e eu não uso esta palavra em vão). Eu tenho alguns momentos pré-pandemia e pré-confinamento que ficaram cristalizados na minha mente, este é um desses…
O André é um dos Caretos de Grijó de Parada. Se há algo em comum todas as diferentes festas de inverno (e na verdade há menos do que parece) é que há sempre uma ou mais pessoas que são a sua força motriz, o André é uma dessas pessoas. E aquilo que ele falava era a Festa dos Rapazes, ou Festa de Santo Estevão (o nome católico para a festa pagã): uma festa que remonta a antigos rituais de fertilidade pagãos, que acontece todos os anos nos dias a seguir ao Natal. Uma das primeiras festas de solstício de inverno que visitei, uma das que faço questão de regressar e a única onde até hoje onde me lesionei!
Durante dois dias a aldeia vive em volta da festa e com os “caretos” vestidos de vermelho, que agora incluem jovens e velhos, homens e mulheres, são os personagens principais dela. São eles que, com ou sem máscara, vão juntando a multidão e fazendo a festa e muitas partidas ao som de tambores e gaitas. Começando com as rondas pelas casas que começam logo pela manhã lideradas pelos “mordomos”, e se é recebido com comida e bebida. Terminando com as corridas, já depois do pôr-do-sol, onde, aos pares, quem queira pode mostrar quem é o mais rápido. Corridas essas abertas a todos, eu incluído, e onde uma queda me iria fazer andar com o ombro dorido durante as semanas a seguintes.
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